Se você está lendo isso, oi! Das milhões de coisas que circulam na minha cabeça, de tudo que leio, vejo, vivo, percebo e traduzo para a forma que melhor me expresso: a estética. Foi isso que me levou a fazer essa newsletter. Duas coisas eu garanto:
1.) Tenho 100% de certeza que não sei se isso vai durar, mas tenho 100% de certeza que vou tentar.
2.) Prometo vislumbres estéticos legais e outros insights de comportamento que podem surgir no processo.
Sempre tive uma profunda conexão com a estética, com a sensibilidade que a permeia e com as formas pelas quais ela se expressa. Essa ligação, aliada ao meu senso crítico apurado, me guiou para a indústria da moda e estratégia, que escolhi como ofício e carreira.
Esse meu radar estético, apurado para captar tendências e traduzi-las em coleções de moda, produtos,branding e estratégias nem sempre recebe o devido respeito. Já vi e tive ideias minhas sendo utilizadas como se fossem de autoria individual dos donos das marcas, ceo’s, DC’s, sem nem ser creditada, eles ignoram a valiosa contribuição de toda a equipe envolvida no processo geral da elaboração de um produto, de uma ideia.
Acredito que a criação / desenvolvimento seja de uma idéia ou de um produto é um esforço coletivo, onde cada membro de uma equipe, com suas habilidades e experiências únicas, contribui para a realização dele como objetivo final de materializar a ideia que vai para o mundo. E na industria da moda não deve ser diferente, mas ainda existe uma prática muito clichê e datada de não se creditar e, pior ainda, de não existir respeito por cada pessoa ali envolvida, acho que está mais do que na hora de quebrarmos essa cultura de individualismo. aqui um artigo da 1Granary que discute isso de forma mais aprofundada, se vc se interressar: "design teams invisible fuels high turnover"
Mesmo com todas as complexidades dessa indústria e com as dúvidas que seus meios e fins me instigam cada vez mais, não consigo me desligar dela, principalmente da forma como a moda é, sim, um reflexo do comportamento social e cultural.
O processo criativo, com suas particularidades e singularidades, é único para cada indivíduo, sem se submeter a regras rígidas e aberto à experimentação e à inovação. É com curiosidade, estudo, dedicação, persistência, amor e muito trabalho que desenvolvo meu processo criativo, buscando entender o comportamento humano, as emoções, a cultura, a sociedade e os diversos sistemas simbólicos que moldam nossa história e realidade.
Nunca tive um blog, Flickr, MySpace ou qualquer outro tipo de interação na comunidade online. Tive um Tumblr para salvar conteúdos que me interessavam, muito antes da explosão de aplicativos para organização e armazenamento.
Minha presença nas redes sociais é digamos limitada. Meu Instagram é privado, por questões de privacidade e porque não acho legal essa exposição, e acesso a pessoas que mal conheço, por mais que possamos editar o que se é postado. Ter o IG fechado, na era atual, pode ser visto como algo estranho por muitas pessoas hoje em dia. Mas o que as redes socias se tornaram hoje, me deixa cada vez mais certa do manter ele no privado, como sempre foi. Me incomoda esse lugar superficial onde pessoas físicas parece que se tornaram marcas, reduzidas a status, símbolos e posts patrocinados. Vejo que o Instagram pode ter sim alguns benefícios para networking, mas essa cultura da autopromoção incessante, nesse ritmo acelerado, me causa uma imensa sensação de vazio. Cada vez mais me parece tedioso, sem graça, muito falso, um jogo de interesses que vai além de ser saudável, complexo como as fake news mesmo.
Sinto que a autenticidade foi contaminada pelos algoritmos e pela performance da "vida-carreira" nas redes sociais. E aí, ao invés da antiga pergunta "O que você faz?", que era automaticamente respondida com nossa profissão, como se ela definisse quem somos, me parece que as redes sociais hoje se tornaram a resposta para essa pergunta. Cada vez mais, esse comportamento de superexposição, essa obsessão por autopromoção, essa cultura da performance – ou como Beth Bentley chama: "a era da economia da atenção" – continua a moldar nossa sociedade. Essa busca incessante por likes, views, seguidores, essa superficialidade das relações online e essa perda de privacidade me causam cada vez mais desinteresse nas redes e me fazem questionar as pessoas que estão por trás dessas contas. Pois, além de estarem se enganando e performando uma ilusão, elas colaboram cada vez mais para uma sociedade superficial. Por trás de cada foto linda, @, localização, festa, convite, evento e blablabla, tem muita gente que não está sendo paga corretamente, que está sendo explorada, que faz tudo isso só para ter "portfólio". Tem muito truque e jogo sujo disfarçado de bolsas, viagens, shows e recebidinhos. Tóxico demais! E eu sei que a indústria da moda promove isso e ganha muito encima dessa narrativa.
"We live in a cultural moment (regime?) known as the attention economy: a market dynamic where human attention, once a personal, economically-valueless resource, is now a powerful economic commodity." - Newsletter da Beth Bentley.
Na minha humilde opinião, toda essa exposição exagerada se resume à falta, ao vazio existencial que nos acomete. E não me excluo disso. Para piorar, essa super exposição parece que se tornou regra para o sucesso, pertencimento e validação. Mas até que ponto vale a pena? Será que essa busca por preencher a falta não gera ainda mais vazio em nós e piorar, nos outros? Parece que ter que performar publicamente seu estilo de vida virou quase que uma regra hoje em dia para você "existir" no mundo. Não tenho a resposta definitiva, mas desconfio que tanto "EU" e essa superexposição desse recorte de vida editado não é saudável e não faz bem pra ninguém.
Me parece faltar senso crítico e auto-reflexão nessa busca incessante por aceitação e nessa necessidade de aparecer o tempo todo. Essa ilusão que vemos nas redes sociais nos afasta cada vez mais da realidade, nos tornando cada vez mais infelizes e insatisfeitos com nossas próprias vidas, longe do que realmente importa.
Quem certamente se beneficia disso tudo é o mercado de consumo, que tem à disposição uma fonte infinita de dados para vender de tudo para quem busca preencher esse vazio com coisas, alimentando ainda mais essa busca incessante por aceitação e essa necessidade de se comparar com os outros.
Claro que uso as redes sociais, principalmente para pesquisas, notícias e seguir marcas, e meus amigos (que a maioria é meio offline, apenas curiosos das redes que nem eu LOL) mas foi no Substack que encontrei um refúgio das redes sociais. Uma rede social de newsletters, oferecendo conteúdo mais autêntico e elaborado. Tem um lance de comunidade que vejo começando a nascer aqui e que tem me chamado muita atenção e acho que faz um link oposto do que mencionei aqui em relação a overexposição e tantas selfies e eu.
Mas aqui no substack, eu vejo pessoas interessantes, newsletters gratuitas e pagas que servem como pontes entre ideias e perspectivas. Me parece ter outro tempo, talvez porque demanda atenção para ler, absorver e refletir sobre o conteúdo colocados aqui, diferente da rolagem frenética das redes tradicionais. Existe com certeza um lugar de busca de validação, pertencimento, mas se dá de outra forma, me soa mais verdadeiro e acho que de alguma forma nos torna mais conscientes do que escolhemos consumir. (tá parecendo post patrocinado, mas eu juro que não é, eu fico meio obcecada quando eu realmente gosto e acredito em alguma coisa). Fervorosa ela.
E foi assim que, para não me tornar uma alienígena das redes sociais, por adorar uma "novidade" e por ter encontrado no Substack um formato mais autêntico, resolvi fazer essa newsletter.
Talvez eu não tenha muitos leitores, apenas meus poucos e bons amigos (talvez nem esses, eu amo eles, mas o engajamento fica baixo quando a demanda da vida real é alta, né?). Fazer uma newsletter surgiu do desejo de compartilhar meu processo criativo, minhas reflexões sobre o mundo e minhas experiências estéticas. É simples assim: um compilado de coisas que eu acho legal, que na maioria das vezes compartilho com amigos próximos, agora à sua disposição.
Ainda não tenho definido formato ideal para a newsletter, mas tenho algumas ideias e pretendo testá-las. Esta primeira demorou a sair, pois escrever não é meu forte. Reescrevi, apaguei, parei e recomecei várias vezes até chegar neste monte de palavras. E a idéia da newsletter nem é ter tanta escrita mesmo, essa primeira que achei que faria sentido fazer essa introdução. Já deixei de fazer coisas por medo de errar e ser julgada. Sou extremamente controladora e crítica comigo mesma e com os outros, o que não ajuda. Além disso, como minha mente é muito acelerada, chega um momento em que tudo parece datado e sem graça, e acabo me sabotando e não realizando. Já melhorei muito, juro! Mas de que adianta esse controle todo? Anos de análise, muitos tropeços e erros para finalmente entender que a liberdade de "deixar ser" é o que importa! A tal "coisa" deixa de ser completamente nossa, tornando-se livre para ser interpretada por outros, sem que possamos controlá-la.
Minha mente é como mil abas abertas no navegador, mil assuntos onde tudo se conecta de alguma forma, pelo menos para mim (risos) e eu tenho opinião pra todas elas.
Benvenuto a minha newsletter, e ao meu debut no Substack :)
*nota importante: Essa newsletter vai ter muitas imagens, as imagens utilizadas nesta newsletter não são de minha autoria, elas fazem parte do meu acervo de pesquisa de imagens e refs. Se você se interessar por alguma delas, basta pesquisá-la em um navegador para obter informações oficiais.
Quiet luxury: seria o retorno do "menos é mais"? Em um mundo tomado pelo "over" – overexposição, overcrises climáticas, guerras, egos, muito barulho e etc. – não seria a moda querendo dizer "vamos fazer menos barulho e exagero"? Luxo, nesse contexto, seria o silêncio, a simplicidade, a calma e a presença.
Será que essa tendência teria espaço em um país emergente com diferenças socioeconômicas imensas como o Brasil? Outro dia, li um post aqui no Substack que me fez rir alto: Hannah Hooper brinca com a trend do quiet luxury, para o quiet work (essa mania de autopromoção de jobs, influenciadores macro e micro e tal, é outro assunto exaustivo e chaterrimooooo).Sou a favor do trabalho silencioso. Let’s make quiet work great again :)
tradução: “Acredito que há muito valor em trabalhar com calma e generosidade, ao invés de buscar ser barulhento e "influenciador" neste mundo. Cuidar do trabalho silencioso está sendo muito bom agora.”
paz e amor com a mais mais mais it girl de todas - Audrey <3
além das correntes da ilusão: powered by Fromm, Marx e Freud, uma leitura bem tranquila.
Ilusão: substantivo feminino
erro de percepção ou de entendimento; engano dos sentidos ou da mente; interpretação errônea.
efeito artístico produzido pelo ilusionismo.
Vi num post da Recho Omni que o Shawn Stussy cansou da aposentadoria e vai voltar a trabalhar, e já está com projetos em andamento. Fiquei curiosa para saber o que um dos precursores do streetwear, beachwear e sportywear vai fazer. Vinte anos se passaram desde sua aposentadoria. Tem um clima de nostalgia criativa no ar faz um tempo já, com remakes de sneakers, filmes e outros produtos.
* eu amo essa ultima frase: “ you enjoy the good when it is here”, traduzindo mais ou menos fica assim: curta as coisas boas quando elas estão acontecendo. A palavra quando, marca uma presença tão forte na frase já dizendo: aproveita o momento bom porque ele não é pra sempre, pois, nada é pra sempre.
Confusão: O caos já é campeão. Ano olimpico e de decisões eleitores importantes.
Grace Walles, na minha modesta opinião, poderia assumir a direção criativa da Chanel. Ela está prontissima, é fashion designer mesmo, faz um quiet work luxury como ninguém, não caiu nas graças de nenhum guru-editor-chief-global-de-Vogues nenhuma, tem talento de sobra, e vai saber como ninguém fazer a marca ser sobre a Chanel mesmo e não sobre ela. We can agree to disagree.
Para esta primeira newsletter, é isso! Espero que algo te inspire, te traga um insight estético, uma opinião ou um momento de deleite mesmo. Se sentir vontade, pode comentar, dar sua opinião, mandar um link relacionado ao que viu aqui, um meme ou o que quiser :) Eu vou adorar! Também preciso pensar em como usar o chat de forma funcional e como conectá-lo aos assuntos da newsletter e quem sabe poder ter mais flow.
Um baci (sem smuack, bem silencioso)!
Marcela
melhor e único comentário ❤️🎯❤️🎯🤓
Boa reflexão …